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Capítulo 24 – Juninho


Juninho já havia passado por muitas coisas ruins na vida para saber que a melhor maneira de resolver um problema era indo na fonte e, quando viu Mago ali encima, observando aqueles monstros junto de Irineu, soube que estava recebendo uma oportunidade, oportunidade essa que talvez não aparecesse novamente.


Não sabia exatamente o que iria fazer quando chegasse até lá, mas precisava achar um jeito de impedi-los, ou pelo menos atrasá-los para que os amigos conseguissem fazer o contato com Arsênio e fugir dali. Um sacrifício que estava disposto a fazer, talvez um último ato de coragem para se redimir por ter ajudado Mago no começo. Ainda que não tivesse tido escolha, se sentia mal com aquilo que ajudara a criar.


Desceu as escadas tão rápido quanto havia subido, mas ao atingir o saguão do prédio se obrigou a seguir com cautela, pois as ruas já estavam tomadas de esqueletos.


Juninho avistou novamente o prédio em que Mago estava, era o único que continuava de pé em sua totalidade, com pouco mais de trinta ou quarenta andares. Olhou para a rua tentando definir uma rota até lá e concluiu que seria bem complicado pois, somado aos destroços que ele já havia superado antes com seus amigos em extrema dificuldade, havia os esqueléticos vasculhando o local.


Conferiu sua arma e as munições. Estavam abastecidas. Mas seria melhor ir até lá sem chamar tanta atenção, pois seria impossível vencer todos eles apenas com aquela metralhadora pequena.


Juninho então se dirigiu até um canto do prédio onde havia uma porta vermelha com um disco hidráulico no centro. Mais acima havia um símbolo muito difundido no mundo como um perigo, o símbolo internacional de radiação, e a inscrição logo abaixo confirmava isso: CUIDADO! Risco Biológico.


- O risco aqui fora é muito pior do que esse – resmungou para si mesmo e começou a forçar o disco para abrir a porta.


Precisou reunir muita força no começo para fazê-lo girar, mas logo a porta já estava aberta e Juninho se deparava com uma escadaria mal iluminada apontando para baixo. Não pensou duas vezes. Entrou, fechou a porta e passou a descer as escadas.


- Talvez por aqui eu tenha mais chances.


Ao chegar no fim da escada um pequeno buraco quadrado no chão indicava que o único meio de continuar por ali era entrar naquele túnel fétido e correr o risco de pegar uma doença grave. Antes a saúde do que a vida.


Juninho se precipitou para baixo e passou a descer apoiando um pé depois do outro nas pequenas barras de ferro chumbadas na parede do túnel. Um rato passou próximo ao seu braço e ele quase se soltou, devido a surpresa, mas se manteve firme com um esforço e continuou descendo.


Já havia descido em torno de dez metros e a iluminação que já era ruim foi ficando cada vez pior, até que sentiu o pé direito molhado. Havia chegado no fim do poço e uma poça de água podre veio lhe dar as boas vindas.


Juninho sentiu uma leve brisa lhe tocar o rosto do lado direito, uma brisa não muito agradável ao nariz. Estendeu a mão e tocou uma parede fria e úmida, concluindo que não havia caminho para a frente. Estendeu os dois braços para as laterais e deu três passos para a esquerda, não esbarrou em nada. Repetiu os três passos para a direita e emendou mais três e também não esbarrou em nada. Decidiu então ir para a esquerda.


Não era uma caminhada muito agradável. A escuridão já tomava conta de Juninho de tal forma que não conseguia dizer nem mesmo se estava com os olhos abertos ou fechados, mas caminhava com a mão arrastando na parede confiando em seu tato e procurando algo que o ajudasse a caminhar e saber a hora certa de subir.


Já estava caminhando a um bom tempo e o silêncio só era interrompido por gotas de água que caiam de vez em quando, hora atrás hora na frente. Sentiu uma pequena barra de ferro lhe gelar os dedos e então parou. Estendeu a outra mão para cima e sentiu mais uma, espaçadas em pouco mais de dez centímetros e então começou a subir.


Chegou até o topo e passou por uma abertura quadrada igual à do outro prédio, seguida por uma escada de ferro com corrimões na altura da cintura. Começou a subir a escada também e deu de cara em uma porta de ferro levemente amaçada para dentro, como se tivesse recebido uma forte pancada pelo lado de fora. Juninho começou a puxá-la pela maçaneta, mas ela estava emperrada. Olhou em volta tentando encontrar algo para ajudar, mas a falta de luz não o deixava ver muito longe. Começou a tatear as paredes e se deparou com uma caixa de metal cumprida pendurada e pressupôs que se tratava de um machado de incêndio. Levantou a metralhadora e bateu com ela na frente da caixa e o som de vidro se partindo se fez ouvir em todo o ambiente, lançando cacos para todos lados. Juninho estendeu a mão, sacou o machado e voltou para a porta, prensou o cabo na pequena abertura do amaçado e começou a forçar novamente até a porta ceder.


Uma luz fraca entrou no túnel enquanto ele saia com cuidado, olhando em tudo ao redor com medo de ter chamado a atenção de algum monstro com aquele barulho, mas o prédio estava vazio. Foi engatinhando até a entrada do prédio, se escondendo atrás dos entulhos e viu que seu objetivo estava do outro lado da rua.


Alguns esqueléticos caminhavam por lá, mas agora eram poucos, a maioria já deveria estar nas ruas paralelas à Avenida Paulista ou enfiados dentro dos prédios procurando sobreviventes e só então lembrou dos amigos e temeu.


- Preciso me apressar – falou para si mesmo. – Espero que eles ainda estejam vivos.


E então Juninho se levantou para seguir seu caminho, mas nesse momento sentiu uma mão lhe tocando o ombro direito e lançando-o para trás com toda força.


Juninho caiu em cima de uma mesa de madeira que estava adequadamente localizada no meio do salão e o baque lhe fez doer as costas. Tentou se levantar com um gemido, mas o esquelético já estava em cima dele lhe dando um saco no estomago e jogando a metralhadora do outro lado.


Juninho ficou sem defesa e então o esquelético o levantou pelo pescoço e passou a encará-lo com seus olhos vazios como a morte.


Juninho fez menção de chutá-lo, mas o esquelético mal se mexeu e então começou a se espernear no ar, girando o corpo e se debatendo com toda a força antes que pudesse ser transformado.


O esquelético pareceu confuso com a reação, como se fosse a primeira pessoa que estivesse agindo daquela forma, por isso o jogou longe novamente e Juninho caiu com outro baque surdo. Levantou a cabeça e viu o esquelético saltando sobre ele e com um movimento rápido sacou a pistola que havia guardado na perna e atirou na cabeça da criatura que despencou no chão.


O barulho do tiro reverberou por todo o saguão daquele prédio e Juninho começou a ouvir no mesmo instante burburinhos por todos os lados, indicando que outros esqueléticos estavam indo em sua direção.


Juninho se levantou de um salto e passou a correr na direção do outro prédio, do outro lado da rua, ignorando completamente a discrição. Os primeiros esqueletos que estavam na rua vieram para cima dele e foram perfurados pela pistola que carregava e caíram no chão. Juninho repetiu o movimento para todos os outros que cruzaram seu caminho até chegar no prédio em que estavam Mago e Irineu. Percebeu que a munição da pistola havia acabado e então largou ela no saguão antes de começar a subir as escadas.


Juninho subiu até o topo sem olhar para trás e percebeu que, felizmente, ninguém o estava seguindo. Demoraria um pouco para os esqueléticos que estavam mais longe da cena chegarem e talvez aquilo também fosse algo positivo para os amigos, dando-lhes uma chance para fugir dali, algo que ele mesmo não acreditava ser possível para si.


Chegou no final da escada e abriu a porta com cuidado e precisou de alguns segundos para acostumar a visão diante da repentina claridade. Ouviu vozes a uma curta distância e foi se arrastando na direção dela. Parou atrás de um pequeno muro e levantou a cabeça para olhar o que estava acontecendo e então viu algo que jamais poderia acreditar.


Irineu e Mago estavam de pé, diante de um holograma, conversando com um senhor, mas não era um senhor qualquer, era Arsênio.


Juninho começou a soar frio, não acreditando no que estava vendo. Todo aquele tempo em que estiveram tentando achar um meio de entrar em contato com Arsênio não serviria para nada. Ele não ajudaria e, quando pensou nos amigos, temeu ainda mais.


Mas aquela visão perturbadora não durou muito tempo e logo deu lugar a um terrível breu, enquanto sentia uma forte pancada na cabeça e caia desmaiado, se entregando àquela escuridão como se não desejasse nunca mais voltar.


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