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Capítulo 23 - Cícero, Juninho e Garcia


A corrida agora era contra o tempo. Os três iam a toda a velocidade em direção à base de comunicação citada por Garcia, esperando que aquilo resolvesse pelo menos uma parte do problema, já que agora estavam sendo caçados por uma legião de esqueletos. Se morressem ali, naquele momento, tudo estaria perdido.


Foram saltando pelos destroços da Avenida Paulista e ouvindo o som de milhares de passos se aproximando cada vez mais. Um som terrível que trazia a triste lembrança de um fim que se aproximava, um fim que eles fariam de tudo para adiar.


- Parece que estamos com sorte – disse Garcia ao chegarem no prédio da torre, reparando que ainda estava intacto até o décimo andar pelo menos. – Precisamos ir até o oitavo andar, depressa.


Cícero e Juninho continuaram correndo atrás de Garcia que passou pelo saguão do prédio e correu para as escadas de emergência saltando os degraus de dois em dois.


O prédio era todo de vidro espelhado, uma engenharia moderna que havia se tornado uma armadilha para a fauna da cidade, causando diversos acidentes com pássaros, que se confundiam no momento do voo e se chocavam com os prédios. Um problema que também afetava pedestres e motoristas, ao refletir a luz e o calor do sol, além de transmitir calor para o interior do prédio, exigindo maior uso de ar-condicionado e elevando o consumo de energia.


Estes, porém, eram problemas para outros tempos. Naquele momento era uma vantagem, pois podiam olhar tudo lá embaixo enquanto subiam e ao mesmo tempo não serem vistos, uma vantagem que Cícero ousaria discordar, pois quando estavam no terceiro andar ele paralisou ao olhar pela janela e ver a enorme quantidade de esqueletos lá embaixo, vasculhando tudo e andando por todas as direções.


- Aí, caramba – disse ele, quase entrando em desespero. – Estão nos caçando, olhem lá.


Juninho e Garcia pararam também para olhar e Garcia falou:


- Vamos, vamos...precisamos nos apressar.


Subiam agora saltando os degraus de três em três, tropeçando uma vez ou outra, mas sem parar em nenhum momento e, à medida em que subiam, o desespero crescia mais e mais, se elevando lentamente como um elevador, pois a visão ia se abrindo a cada passo e atingindo lentamente um panorama maior e com isso via-se um exército que já era grande crescer ainda mais.


- Aí, caramba, aí caramba, aí caramba – Cícero repetia. – O que vamos fazer?


- Não parem – Garcia falou -, não parem.


- É claro que não vamos parar – Cícero devolveu com uma voz ofegante e temerosa -, mas será que não estamos correndo para o lado errado?


- Não temos escolha – disse Garcia.


Juninho então reparou em algo e dessa vez foi ele quem parou na escada. Olhou de relance na primeira vez, mas o suficiente para chamar sua atenção - Mago e Irineu estavam juntos no topo de um prédio há menos de um quilometro de distância - Estava na frente de Cícero e a parada brusca fez com que se chocassem.


- Ei, o que é isso? – Cícero protestou.


- Eu...eu. Vão na frente. Preciso resolver uma coisa.


- Do que está falando? – Disse Garcia, sem entender. – Precisamos continuar.


- Vão, vocês precisam ir. Encontro vocês depois, é uma coisa que preciso fazer.


Os dois se entreolharam e depois olharam para Juninho sem entender nada.


- Isso faz parte daquela sua história incompleta? – Cícero perguntou.


- Sim.


- Que história incompleta? – Disse Garcia.


- Isso não importa agora – Cícero ajudou o amigo. – Ele precisa ir.


E com uma despedida de olhos Juninho inverteu seu caminho e passou a descer as escadas a toda a velocidade, enquanto Cícero e Garcia continuavam subindo.


- Depois você vai me explicar tudo isso – Garcia falou para ele ofegante.


- Espero que tenhamos a oportunidade dessa conversa – Cícero respondeu, com um pesar na voz que fez as estruturas do prédio se abalarem.


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