top of page

Capítulo 22 – Mago


A cidade de São Paulo já estava tomada e Mago viu tudo acontecer sentindo um orgulho que jamais sentira na vida. Sempre foi um jovem sem perspectivas e essa falta de perspectivas sempre o colocaram em situações complicadas, fazendo com que o desinteresse na vida ou em objetivos nobres para qualquer humano não existissem em sua trajetória até então. Era um fracassado. Uma frase que cansou de ouvir de diversas bocas diferentes.


- Me vejam agora seus idiotas – dizia ele a si mesmo enquanto caminhava ao lado de seu mestre. – Quem é o fracassado agora?


Nunca pensou em liderar um exército daquele porte um dia, mas algo que jamais desejou estava acontecendo, ele era mesmo um dos líderes de uma raça que iria dominar o planeta em pouco tempo e estava acompanhando tudo em um lugar privilegiado. Os ratos humanos que ele sempre detestou estavam agora tendo suas vidas sugadas e respondendo aos comandos de seu mestre perfeito.


- Senhor, isso é magnifico – disse ele em meio a passos curtos ao lado de seu mestre e mentor, rodeados de milhares de esqueléticos.


- Houve um tempo – disse Irineu -, que caminhamos juntos, você sabia disso? - Mago balançou a cabeça discordando e ele continuou. – Foi há muito tempo atrás, há milhares de anos, um homem que tinha muitos inimigos e recebeu o poder de convocar um exército inteiro para ajudá-lo a lutar contra eles, mas seus inimigos também eram humanos. É irônico, não? Humanos matando humanos. Foi um massacre – Irineu suspirou, parecendo se lembrar do dia -, um homem com estes poderes jamais surgiu outra vez, até hoje, claro – Irineu fez uma pausa. – Mas os tempos são outros. Hoje não é possível pensar tão pequeno. Não se pode recrutar um exército como este apenas para lutar contra um inimigo, por isso nosso objetivo é bem mais...como posso dizer...encantador, sim, sim, encantador.


- E qual é nosso objetivo mestre – disse Mago -, vamos conquistar todo o Brasil? Destruir todas as cidades? Converter toda a população?


- Não, não. Isso é só o começo. O plano de nosso mestre vai muito além disso tudo.


A menção a um mestre fez Mago corar. Quer dizer que Irineu não é o mentor disso tudo?

­

- Um...um mestre senhor? – Perguntou ele. - Outro mestre?


- Ora Mago, sim, nosso mestre supremo. Como disse, até então, nenhum outro humano havia tido o poder de recrutar um exército como este, mas nosso mestre foi além, não só nos recrutou, mas nos deu um objetivo e poderes muitos maiores. Chegou nosso momento de reinar. De dominar. Chegou a nossa hora.


Mago olhou mais uma vez a destruição ao redor e sorriu. Não via uma pessoa sequer nas ruas e concluiu que, àquela altura, todos já haviam sido transformados, e contemplava o enorme exército de caveiras caminhando ao seu lado.


- E para onde vamos agora, senhor? – Mago perguntou ao som de milhares de passos reverberando por uma cidade vazia e silenciosa.


- Vamos encontrar os demais. A essa altura eles já devem estar a caminho. Os crânios da operação não encontraram mais nenhum humano nas ruas, vejo que nosso objetivo aqui está concluído.


Não demorou muito e chegaram na Avenida Paulista, segundo Irineu a base do encontro seria ali e Mago estaria diante de um exército ainda maior, mas algo não estava saindo como o planejado, pois de repente todos os esqueléticos pararam e se viraram olhando para Irineu e ficaram postados esperando uma ordem direta.


- O que houve? – Mago perguntou.


- Ainda temos humanos por aqui – Irineu respondeu girando o crânio para a direita e para a esquerda.


- Mas, como isso é possível?


- É uma excelente pergunta. Vamos lá, vasculhem tudo – Irineu gritou -, vamos encontrar esses humanos que ousam nos desafiar. Foi-se o tempo em que aceitávamos humanos em nosso meio.


E tão de repente quanto haviam parado os esqueléticos começaram a se espalhar por todos os lados em busca dos intrusos. Mago sentiu um leve desconforto com o comentário de Irineu, afinal de contas ele ainda era humano, o que o fez pensar se não seria a hora certa de também se transformar em um deles. Mas Irineu pareceu ler seus pensamentos.


- Não se preocupe Mago – disse ele olhando para Mago com seus glóbulos oculares vazios, fazendo Mago enxergar o mesmo vazio que via em tantos olhares humanos -, para você os planos são outros. Precisamos de você assim como está.


Mago assentiu e acompanhou apenas com os olhos seu exército indo à caça. Correndo na rua, em meio aos destroços, saltando de prédios, entrando em outros, levantando veículos e concluiu que seria uma questão de tempo até acharem o humano ou os humanos ainda vivos.


- Venha comigo Mago – Irineu falou -, é hora de fazermos contato com nosso mestre.


Recent Posts
Archive
bottom of page