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Capítulo 16 – Mago


- Espere... espere – Irineu falava do alto do edifício Mirante do Vale enquanto observava, junto de Mago, seus servos destruindo tudo lá embaixo e matando todos que viam pela frente.


Mago estava aguardando pacientemente, com o ingrediente do feitiço em mãos, pronto para obedecer a ordem de seu senhor.


Lá embaixo já era possível ver carros batidos aos montes com fumaça exalando de seus motores ao colidirem uns com os outros ou com qualquer coisa sólida que havia cruzado seu caminho num momento de desespero.


Viu homens e mulheres correndo e sendo alcançados em poucos segundos por criaturas esqueléticas sedentas de sangue. Viu na calçada do prédio alguns jovens tentando impedir um esquelético isolado de atacar uma mulher que corria enlouquecidamente e observou o exato momento em que a criatura pegou um deles pelo pescoço e torceu, apenas com uma mão, levando-o ao óbito. Observou que os outros, ao verem aquilo, desistiram de enfrentá-lo e começaram a correr. Mas não havia para onde fugir. Os esqueléticos eram rápidos e eficientes em seu objetivo e logo em seguida mais dois deles vieram para se juntar ao primeiro e depois de dois segundos mais três corpos estavam estirados no chão, formando uma poça de sangue devido aos enormes buracos formados nas costas e barrigas dos seres humanos.


Era possível ouvir o grito de horror pairando na cidade e Mago observou que Irineu contemplava tudo aquilo em êxtase, degustando cada ataque, cada grito, cada som.


- Quanto tempo mais, senhor? – Resolveu perguntar, mas já sabia a resposta.


- Espere Mago, espere.


Mago olhou para o céu e viu nuvens negras se fechando sobre a cidade, eliminando completamente os resquícios de um sol que estava demorando para surgir naquela manhã sinistra e levando com ele toda a esperança daquelas pessoas.


Pôde ver também pessoas saindo para as sacadas dos prédios para observar o que estava acontecendo na cidade e sendo atacadas também ali e muitas sendo arremessadas para baixo, corpos enfeitando um céu enegrecido.


Aos poucos foi notando que os gritos foram ficando distantes e que a população daqueles quarteirões já haviam sido todas mortas, mas notou os esqueléticos ainda em movimento, correndo por todas as direções, caçando, matando, perseguindo e procurando mais vítimas.


Mago focou na rua novamente e viu que estavam completamente tomadas de corpos de todos os tipos, sexos e tamanhos, até mesmo crianças, e por algum motivo que desconhecia até então, sorriu e gostou.


Irineu subiu no parapeito do prédio, de modo a ficar ainda mais alto, e levantou as mãos para falar aos seus.


- Agrupem-se – gritou ele -, todos vocês.


Uma movimentação começou lá embaixo e Mago viu os esqueléticos se reunindo, lado a lado, filas e mais filas de seres bestiais, reunindo-se de forma militar.


- Comece Mago, vamos em frente – sussurrou ele.


Mago então começou seu ritual. Um círculo. Uma espada. Uma cruz. Um caminho. Uma palavra.


- Mortais – Irineu gritou, com uma voz que Mago desconhecia até então. Um som terrível que foi capaz de fazer tremer aquele prédio em que estavam.


O céu, que agora estava completamente encoberto pela nuvem negra, passou a trovejar com força e Mago podia ver os raios caindo em todas as direções, na rua, no prédio onde estavam, até mesmo em Irineu, mas ele não se abalou, e continuou com seu cântico.


- Mortais...Mortais – Mago se juntou a Irineu e uma multidão enfurecida lá embaixo os acompanhou, batendo um rádio do braço no outro e emitindo aquele terrível som de ossos se batendo.


- Mortais...Mortais...!


E então Irineu baixou os braços e a cabeça e começou a pronunciar algumas palavras que Mago não entendeu. Sua voz foi se elevando aos poucos e Mago passou a sentir o chão tremer. Os raios se intensificaram e o chão do prédio passou a rachar. Mago pensou em sair dali para se proteger, mas se conteve, e permaneceu observando Irineu, que aos poucos foi levantando o braço com uma dificuldade que jamais vira até então. Ficou pensando que, se Irineu possui-se pele e músculos, com certeza veria gotas de suor em sua testa e veias saltando pelos braços.


O Som lá embaixo aumentou de volume e Mago viu que os esqueléticos agora estavam, além de bater os braços, batendo os pés no chão, o direito e depois o esquerdo, como se estivessem em marcha, porém sem sair do lugar.


E Mago viu que todos aqueles que haviam sido mortos pelos esqueléticos estavam levantando com a mesma dificuldade que os braços de Irineu e então Mago percebeu que Irineu estava, com aquele movimento, colocando todos os mortos de pé de uma só vez, aumentando ainda mais seu exército e tirando ainda mais admiração de Mago, que ficou boquiaberto.


Aquele momento parecia estar durando uma eternidade e Mago observou uma das pernas de Irineu se dobrando involuntariamente e temeu que ele não fosse resistir a toda aquela pressão. Pensou em se aproximar e ajudar, mas concluiu para si que seria uma tremenda loucura fazer isso.


Irineu começou a gritar, talvez buscando naquele gesto retirar forças de onde não havia, para concluir aquele ritual, e as batidas lá embaixo se intensificaram ainda mais, com os esqueléticos tentando transmitir energia a seu mestre.


Quando a outra perna de Irineu se dobrou, com a força que estava fazendo, Mago pensou que seria o fim, que tudo daria errado, mas Irineu fez um último gestou com os braços, recolhendo-os atrás do corpo e saltando para traz, descendo do parapeito e caindo de joelhos no chão.


Mago correu até ele para ajudá-lo a se levantar. Precisou de muita força para elevar seu mestre e carrega-lo até o parapeito novamente, mas quando chegaram lá toda a fraqueza foi embora de imediato. Contemplavam naquele momento o maior exército que Mago já vira na vida. Uma multidão de mortos estava lá embaixo, olhando para cima, e se juntando aos outros servos no bater de braços e na marcha de pés e um som se fez ouvir por toda a cidade em uníssono.


- MORTAIS.


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