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Capítulo 15 – Cícero e Juninho


O trânsito na cidade de São Paulo sempre foi algo comum, mas aquele engarrafamento não fazia sentido algum, sobretudo naquela região e naquele horário. O sol já começava a aparecer no horizonte e o céu azul começava a encobrir aquela escuridão obscura de algumas horas atrás.


Parecia mais um dia comum, com pessoas comuns indo ao trabalho ou a faculdade, mas eles sabiam que algo muito ruim estava à solta por ali, em algum lugar, e parecia também que toda a população da cidade havia resolvido sair de casa no mesmo horário e pegar o mesmo caminho.


O taxista já estava impaciente, disse que havia trabalhado a noite toda e que aquela seria a última corrida antes do descanso, uma corrida que estava demorando mais do que o normal.


- Não estou entendendo – disse ele -, nesse horário não costuma ser assim por aqui e, no pior dos dias, os carros costumam andar, devagar, mas andam, mas hoje está tudo completamente parado.


- Isso é estranho mesmo – Juninho falou e olhou para Cícero que concordou apenas com um aceno de cabeça, não querendo preocupar o taxista ainda mais com conversas sobrenaturais.


Cícero olhou para fora e reparou na roda do carro ao lado. Estava absolutamente parada, assim como o seu taxi, e concluiu que seria perda de tempo ficar ali. Resolveu abrir a porta do taxi e sair para olhar. Quando olhou para a frente viu que muitos motoristas haviam feito o mesmo e uma multidão já se aglomerava na avenida se perguntando o que havia acontecido.


- Mexa com a rotina das pessoas e tudo vira um caos – falou para si mesmo.


- Minha nossa – Juninho estava do outro lado do taxi, também se levantando para espiar. – Cícero, isso não pode ser coisa boa.


- Também acho. É bom que o velho já esteja bem longe daqui, pois me parece que a coisa vai ficar bem feia.


E então aconteceu. Uma multidão enlouquecida passou a correr na direção deles, gritando tão alto que seria capaz de deixar qualquer um completamente maluco. Os dois se entreolharam e passaram a correr também, na direção oposta.


- Começou, começou – Cícero falou, desesperado.


- Precisamos voltar ao museu – disse Juninho.


- Ei, vocês precisam pagar a corrida, voltem aqui – o taxista gritou, mas ao perceber o que estava acontecendo passou a correr também. – Ai meu Deus, o que é isso?


Os dois se desvencilharam da multidão depois de um tempo e entraram num beco que também serviria como atalho para o museu. Não pararam de correr nem por um minuto sequer e por sorte ninguém os seguiu. Não seria nada bom ter uma multidão correndo atrás deles, chamaria muita atenção.


Não sabiam se o museu seria capaz de protegê-los, mas precisavam ganhar tempo. Precisavam falar com Arsênio. Precisavam ligar para o detetive. Alguém precisava saber o que estava acontecendo e se preparar para lutar contra aquilo.


Quando chegaram na porta do museu viram um carro da polícia estacionando e Cícero viu o detetive Garcia lá dentro. Sentiu uma pontada de alívio, mas mesmo assim não parou de correr. O detetive o viu correndo e saiu do carro às pressas, estacionando de qualquer jeito, meio na guia, meio na rua.


- Ei Cícero, pare, precisamos conversar.


- Então me siga, rápido – Cícero devolveu e entrou no átrio do museu com Juninho no seu pé.


O detetive não questionou, tendo em vista tudo o que tinha ouvido no apartamento daquela jovem, pressupôs que comportamentos estranhos começariam a aparecer aos montes. Tão logo entrou se vislumbrou com o que viu. As chaves de todos os tipos espalhadas por todos os lados o encantou e a imponência do lugar era de arrepiar. Pensou em como poderia nunca ter visitado aquele lugar depois de viver ali durante tanto tempo e desejou voltar com sua família em outra hora para mostrar a eles. Um pensamento que o deixou em desconforto. A velocidade em que as coisas estavam acontecendo não lhe deu tempo de pensar que talvez sua família estivesse correndo perigo, por isso sacou o telefone ainda correndo e apertou a discagem rápida para a esposa.


- Alô – uma voz sonolenta falou do outro lado.


- Meu amor, me escute com atenção – disse ele, com a voz entrecortada devido à falta de ar nos pulmões – pegue nosso filho e tudo o que for necessário para sair de casa e saia agora, vá para a delegacia...rápido.


- Calma amor, o que...


- Não meu bem, me escute. Você precisa sair daí agora mesmo, não é seguro. Me escute, por favor. Faça isso agora mesmo, vou te encontrar lá mais tarde.


Apenas um silêncio foi dado como resposta e pareceu durar uma eternidade até sua esposa responder.


- Tudo bem! – Disse ela somente e desligou o telefone.


Garcia guardou o celular no bolso momento em que Cícero e Juninho entravam por uma porta posicionada no centro de uma parede completamente preta. Continuou atrás deles quando desceram uma escada, passaram por um corredor mal iluminado e entraram no santíssimo local de estudos de Arsênio.


- O que está acontecendo Cícero? – Foi a primeira pergunta depois que pararam de correr reparando de relance em seu reflexo no piso mais brilhante que já vira na vida – Isso tudo tem a ver com a morte de Marcos, naquele cemitério?


- Sim, em partes – Cícero falou e depois de ouvir a história de Antera duas vezes não teria problema em explicar tudo ao detetive.


- Você só pode estar brincando – disse ele, depois de ouvir tudo o que Cícero e Juninho contaram -, isso não pode ser verdade.


Juninho e Cícero apenas o olharam, pois sabiam que o detetive não acreditava, realmente, que aquilo não era verdade. Ele sacou o celular e discou para a delegacia.


- O que vai fa... – Cícero começou a perguntar, mas o detetive o interrompeu com um levantar de dedos.


- Alô, aqui é o detetive Garcia.


- Oi Garcia, sou eu, Ramon, sua esposa chegou aqui, está apavorada, disse que você a mandou para cá. O que está havendo?


Ramon era um velho amigo de Garcia e havia sido seu parceiro por muitos anos. Se havia uma pessoa ali capaz de entender tudo e ajuda-lo a resolver aquilo esse alguém era ele.


- Ramon, que bom que é você – disse ele -, escute, tranque minha esposa e meu filho em uma cela, por favor, não é seguro aqui fora.


- Calma Garcia, o que está havendo?


­- Não dá para explicar agora, Ramon. Vou correndo até aí assim que possível para explicar tudo, mas temo que não será necessário, em breve você verá com os próprios olhos. Alerte todas as unidades, chame reforços, precisamos lutar contra essas coisas.


- Lutar contra o qu... – Ramon se interrompeu - ai meu Deus.


- Ramon, fala comigo. O que está acontecendo aí?


­- Você...você não vai acreditar no que estou vendo Garcia.


- Corre Ramon, faça o que te pedi, agora, rápido – Garcia ouviu apenas um baque no telefone e pressupôs que Ramon o havia jogado no chão e corrido para realizar o que lhe pediu. Precisava acreditar nisso. Precisava se apegar a isso. Caso contrário nada mais faria sentido na sua vida.


- É claro que acredito, Ramon – disse ele para si mesmo -, sei muito bem o que você está vendo por aí.


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