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Capítulo 13 – Cícero e Juninho



- E como você pode ajudar? – Cícero perguntou assim que chegaram no museu das portas & chaves.


- Sei o que eles pretendem fazer – respondeu ele, temendo revelar de imediato que andou com eles por algum tempo.


- Ah é? E como você pode saber uma coisa como essa? – Cícero falou, em tom de deboche. – Cara, eles são esqueletos, não são seus amigos de infância.


O comentário irritou Juninho mais do que deveria, sobretudo pela palavra amigo e infância.


- É que...bem, isso não importa agora, mas eles querem recrutar o máximo de pessoas, ou melhor, de mortos possíveis e destruir tudo, não sei o motivo ainda, mas sei que farão de tudo para acabar com a raça humana.


- Isso nós sabemos – respondeu Arsênio -, o que precisamos saber é como para-los ou impedi-los.


- Temos que comunicar as autoridades – Cícero falou -, não vejo meios de parar essa coisa.


- Há muitas coisas que você não vê – disse o funcionário, também conhecido como motorista.


- Escuta aqui meu amigo – Cícero se irritou -, já estou cansado desse seu sarcasmo. O que há com você, hein?


- Acalmem-se rapazes – disse Arsênio, no momento parecendo o mais sóbrio -, isso não vai ajudar. Precisamos descobrir como reverter o feitiço de Aquira.


- Quem é Aquira? – Juninho perguntou.


- É uma longa história – disse Arsênio -, mas já que está aqui você precisa saber.


Arsênio contou novamente a história para Juninho e ele ouviu atentamente, fazendo questionamentos aqui e ali, como se conhecesse a história tão bem quanto Arsênio, procurando ligar os pontos.


- Então essa bruxa era sua sogra? Estou impressionado.


- Sim, mas nunca a conheci. Creio que deva ter morrido antes de eu conhecer Antera.


- E por que acha isso? – Juninho perguntou.


- Por causa da invasão. Napoleão deve ter matado toda a população de Portugal – Arsênio falou.


- Não – Juninho retrucou -, isso não aconteceu...


- Como assim – Cícero perguntou, interrompendo.


- Quando Napoleão chegou em Portugal – ele prosseguiu – e viu que a comitiva havia ido embora, se retiraram e voltaram para a França. Não houve destruição ou morte. Até por que o povo não tinha nada a ver com a covardia de Dom João.


- E como você pode saber isso? – Cícero perguntou.


- Sempre gostei muito de história, de estudar, então sei bastante coisa.


- Isso é muito interessante – Arsênio falou -, se não houve destruição, o que será que aconteceu com Aquira?


- Ela pode até mesmo estar viva, então – Cícero falou e todos o olharam espantados, como se aquele comentário fosse a prova de que ele realmente não estava em sua total sanidade. – Ei, esperem. Você disse que ela é uma bruxa, não disse Arsênio? Uma bruxa que fez o que fez, no mínimo deve ser imortal.


- Ele tem razão – o motorista falou, deixando Cícero surpreso.


- Se há alguém que deva saber como parar isso, esse alguém é Antera – Cícero falou. - Não é possível que ela ainda deseje destruir a humanidade.


- Precisamos encontra-la – disse Arsênio -, se isso for verdade talvez tenhamos uma chance. Eu vou para Portugal.


- Não meu senhor – disse o motorista -, você não está em condições de viajar desse jeito.


- Também não estou em condições de ficar aqui esperando ser morto por um rei caveira.


- Ele tem razão – Juninho falou -, esses monstros fazem coisas que vocês nem imaginam. Aqueles esqueletos que vocês atropelaram eram jovens comuns cinco minutos antes de vocês chegarem e se não houvessem chegado àquela hora, provavelmente eu também seria um deles.


- Como isso é possível? – Cícero falou.


- Não sei, só sei que além de formar um exército com corpos dos cemitérios, eles podem também transformar os vivos em servos esqueléticos, o que transforma a ida de Arsênio para Portugal mais do que providencial.


- Então eu vou com você – o motorista falou -, se formos nós dois talvez consigamos encontra-la mais rápido, se ela ainda estiver viva, claro.


- Com certeza estará – Juninho falou – uma vez Mago disse que precisavam alcançar o auge do poder com rapidez antes que encontrassem a bruxa criadora.


- Isso me soa como se você soubesse mais do que está disposto a contar – falou o motorista.


- Nesse momento é tudo o que posso falar.


- Então vamos – disse Arsênio -, mande preparar o avião e vocês dois fiquem por aqui. Tentem alertar as autoridades, talvez possam ganhar tempo lutando enquanto não voltamos com a solução.


- Tudo bem – Cícero falou -, vamos procurar o detetive Garcia. Ele vai gostar de saber que tenho mais coisas a dizer.


E então Arsênio partiu. Para ele, diretor daquele museu por tanto tempo, não era difícil ter recursos para uma viagem como esta. Pretendia desembarcar em Portugal o mais rápido possível, por isso viajou na mesma noite. Precisava voltar o quanto antes com a solução para aquele mistério, mas encontrar uma bruxa imortal numa Portugal tão distante de como era naquela época seria uma missão difícil de cumprir, mas o fato de saber que a humanidade dependia daquilo lhe dava forças, uma força que, a julgar por sua idade, qualquer um duvidaria que existia, mas estava lá, bem guardada, pronta para ser usada a qualquer momento e fazia Arsênio pensar se ele também não poderia ser imortal como ela.


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