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Capítulo 9 – Juninho

  • T.S.Duque
  • 16 de set. de 2015
  • 3 min de leitura


Como toda criança que sofre com valentões na escola ou na rua, Juninho sempre desejou ter poderes especiais para enfrentar esse tipo de problema. Desejava correr mais rápido. Desejava ter mais força. Desejava ter coragem. Mas como em todos os outros casos no mundo até então, o desejo não passava disso, apenas desejos.


Naquele dia viu esse desejo impossível retornar, ainda mais diante daquela visão que, há tempos atrás, também seria impossível. Um exército de caveiras se levantando no cemitério central e recebendo ordens de um senhor desconhecido, um senhor que aparentemente havia surgido do mesmo modo, no mesmo lugar, mas com poderes infinitamente maiores.


Juninho sabia que aquele cemitério seria o primeiro que Mago visitaria com seu novo rei e que a partir dali se multiplicaria pelo país levando a destruição, aterrorizando pessoas e recrutando novos servos, mas no momento em que presenciara o nascimento daquela raça, tremeu. Sabia de tudo o que iria acontecer. Como as coisas seriam feitas. O motivo. A razão. Os próximos passos. Mas viu, naquele momento, que não estava preparado para lutar contra aquilo. Pelo menos não sozinho.


Quando o chão começou a tremer e o céu passou a trovejar, Juninho se encolheu atrás de uma lápide grande para observar. Viu o vento começar a rodear Mago, no centro daquele poder. Viu o chão começar a rachar. E viu os mortos se levantando e se enfileirando com organização militar.


Ouviu os comandos do rei. Ouviu as ordens sendo ditadas por aquela voz profana e sem humanidade. E viu seres esqueléticos se alegrando com cada palavra proferida.


- Mortais, mortais.


Gritavam eles enquanto batiam um braço no outro com o objetivo de introduzir uma trilha sonora naquele canto de guerra. Fazendo Juninho se arrepiar ainda mais com aquele som de ossos se batendo.


Quando enfim eles partiram para cumprir com suas tarefas Juninho viu o rei e o Mago conversando, mas dessa vez não conseguia ouvir. Pensou em se esgueirar para mais perto, mas concluiu que seria uma tolice correr o risco de ser visto ali, naquele momento.


Os dois, então, passaram a caminhar para fora do cemitério, em direção à rua novamente, e Juninho os seguiu, de longe. A julgar pelo caminho que estavam fazendo Juninho concluiu que voltariam para a caverna onde tudo começou, mas não tinha tanta certeza.


Na segunda esquina havia alguns jovens sentados se drogando e jogando conversa fora. Juninho correu para trás de um poste para se esconder e observar enquanto via os dois se aproximarem deles.


- Ei meu jovem – Irineu falou apontando para um dos rapazes, com uma voz grotesca, mas convidativa -, você quem me pediu uma fantasia como essa, não foi?


O jovem sorriu. Mas Juninho não sabia se era de felicidade ou de confusão. Mago estava de pé, ao lado de Irineu, apenas observando. O jovem olhou para os demais procurando olhares que o encorajassem diante daquele ser, mas a loucura instalada em seu cérebro foi o suficiente para se decidir.


- Pô cara foi isso mesmo, irado, irado essa fantasia.


- Ótimo – Irineu falou -, venha se juntar a nós então – Irineu sorriu. Um sorriso que fez o jovem dar um passo para trás.


- É...se juntar? – O jovem pareceu por um momento voltar a sanidade. – O que quer dizer com se juntar?


Juninho arregalou os olhos quando Irineu o pegou pelo pescoço e começou a soprar um pó branco em sua boca. Os amigos do jovem entraram em choque e passaram a correr assustados na mesma direção em que estava Juninho. Aos poucos a força vital do jovem foi sendo sugada e sua pele morrendo. Durou menos de um minuto e de repente a única coisa que havia na frente de Irineu era um corpo esquelético sem vida balançando em suas mãos. Irineu largou o esqueleto no chão, falou algumas palavras e fez um movimento com a mão direita de baixo para cima.


- Levante-se e vá – disse ele e no mesmo momento o esqueleto se levantou e passou a correr atrás daqueles que antes eram seus amigos. Os amigos passaram por Juninho muito rápido, mas não tão rápido quanto o esquelético. Uma situação que lembrou muito sua infância, mas era o contrário que estava acontecendo. Não eram três correndo atrás de um, mas um correndo atrás de três. Não demorou muito para serem alcançados, um a um, e logo todos eles estavam iguais ao primeiro.


Quatro jovens esqueléticos.


Um rei esqueleto.


Um servo humano.


E um humano encurralado pelo mal. Foi ali que Juninho soube que a humanidade realmente estava perdida.


 
 
 

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