top of page

Eu posso voar


- Eu posso voar! - Piu pensou enquanto andava por entre as milhares de pessoas que passavam por ele a toda velocidade sem mesmo enxergar que ele estava ali. Algumas até paravam para lhe dar uma migalha de pão, talvez por observar sua aparência o julgassem como um ser faminto, mas não, ele não estava com fome, não exatamente, ele queria outra coisa - Eu posso voar!

Há muito tempo tentaram arrancar esse sonho de Piu, mas como persistente que era não se deixou levar, contudo, por mais que tivesse força de vontade, o medo permanecia mais forte do que ele e, o fato de pensar em voar, o levava a tristes lembranças que o acometeram de súbito.

Piu nunca teve a oportunidade de voar e viveu prezo até então em cadeias e pensamentos e, por mais horríveis que fossem as cadeias, pior do que isso era a prisão de seus pensamentos que, mesmo estando livre das cadeias, ainda o impediam de realizar o seu sonho - Eu sei que posso voar – Tentava pensar.

Seus pais podiam voar, contudo não tiveram muita sorte, e esse é o motivo da prisão de Piu. Muito cedo, antes que pudesse formar qualquer pensamento, viu os pais serem pegos e seus malfeitores lhes arrancar toda e qualquer chance de se estabelecerem novamente e ensinar ao filho a arte de voar e agora, anos depois, Piu estava sozinho, sem os pais e sem esperança. Mas a solidão o deu asas e, melhor do que qualquer companhia, ela o ajudou a enxergar que sim - Eu posso voar.

Piu então deixou de lado as migalhas de pão e passando pela multidão que mal o notava se dirigiu até o alto de uma ponte e avistou o grande céu azul que o aguardava e que poderia ser alcançado no mesmo instante em que saísse de uma vez de sua prisão.

- Sim, eu posso voar – Pensou, mas seus pensamentos mais uma vez o amarraram e vozes o acorrentavam e gritavam querendo tirar sua coragem, mas a força interior foi maior e a solidão de estar em terra o encorajou e lhe trouxe esperança, a crença de que poderia pular e de que iria para um lugar onde não mais ficaria sozinho e poderia encontrar outros como ele que também são livres para voar - Piu então saltou.

Um salto desajeitado foi se arrastando pelo céu. Caindo. Cada vez mais se aproximando do chão. - Não, eu posso voar! - Piu se ajeitou e com um movimento quase na última hora conseguiu arremeter e alçar vôo.

- Sim, eu sabia que poderia voar. - Pensou ele enquanto tomava distância de todos e avançava em direção ao lugar em que não ficaria mais exposto à solidão como na terra de outrora. E voou. Voou com a certeza de que nada poderia impedir seu destino, pois era certo que poderia voar e concluiu com êxito seu objetivo saltando assim para um novo passo que com certeza será maior do que o anterior e o fará ser quem realmente é...

Conto de T.S. Duque no concurso "Quem conta um conto" da Giostri Editora.

Crédito da imagem: Espaço Paralapatões


Recent Posts
Archive
bottom of page